Olá leitores e passantes!
Depois de muito "róquenrou" e variantes, hoje minha participação nesse tão eclético blog prestigia a e-music. O álbum em questão é o "Protection", primeiro do Massive Attack a chegar até as minhas mãozinhas ávidas, mas o segundo lançado pelo grupo. Primeiro, uma imprescindível introdução aos leitores sobre a história que precede a obra. Robert del Naja, um dos dois integrantes atuais do Massive Attack, foi um dos responsáveis pelo surgimento do estilo musical chamado trip hop, na década de 80 em Bristol, Inglaterra.
O trip hop foi uma "evolução" do house, levando praticamente as mesmas influências porém em formato downtempo, ao contrário do papai house. No caldeirão inglês que misturava Tricky, Massive Attack e Portishead no final dos anos 80 e início dos 90 foi criada uma iguaria sofisticada e temperadíssima, levando muitas porções de acid jazz, dance, hip hop e até rock psicodélico e reggae. Nada mais adequado para nomear tal estilo musical do que um adjetivo que remeta à viagem.
E é exatamente disso que é feito o álbum de 1994 do Massive Attack. Uma genuina viagem por emoções e sensações musicais envolventes e elegantes. Porém, eu diria que a viagem proporcionada por "Protection" leva o ouvinte não à outro lugar ou dimensão, mas a outro estado psicológico, outra percepção de suas próprias emoções. Muita dessa viagem real e carnal que o disco traz deve-se à magnífica participação de Tracey Thorn, integrante do grupo inglês Everything But the Girl (certamente resenhado por mim em breve). Os vocais de Tracey são dramáticos e únicos, os falcetes são quase gemidos e sua voz consegue carregar toda a densidade do som dos instrumentos e batidas que a acompanham.
Na faixa de abertura, que leva o mesmo nome do disco, Tracey fala ao ouvinte como uma mãe, um ente próximo, que tenta se aproximar dele e realmente protegê-lo. A sensação causada por "Better Things", outra faixa que conta com os vocais de Tracey, traz praticamente a mesma sensação, só que de maneira um pouco mais sexual do que em "Protection". "Karmacoma", um dos hits do álbum, tem o mérito da participação ilustre de Tricky. A música leva uma batida étnica que parece africana, extremamente orgânica. Os vocais não muito marcantes de 3D me parecem propositais, para manter uma certa neutralidade ao combinados com o ritmo quase de umbanda.
Já "Three" é interpretada por Nicolette, cujo timbre tem um estilo indiano, que se repete em "Sly". Ambas tem batidas mais psicodélicas e fluidas, com instrumentos de sopro e batidas de percussão secas, conferindo um tom épico ao som. Essas duas, eu diria, caberiam perfeitamente em qualquer trilha dos filmes do David Lynch. "Weather Storm" é toda instrumental, e poderia ser perfeitamente uma melodia da Sade ou do George Michael, que eu particularmente adoro, mas são musicalmente um tanto quanto "pobrinhos". Portanto, essa na minha opinião é a faixa que mais deixa a desejar, com essa aura oitentista brega e rasa, sexy beirando o cômico.
Na seguinte, "Spying Glass", o reggae predomina, com pitadinhas soturnas dos sintetizadores e dos vocais super peculiares de Horace Andy, que ora soam como um extraterrestre, ora como um personagem de "Senhor dos Anéis", ora como um doente terminal de alguma doença pulmonar. Andy também interpreta uma versão reggae extraterrestre dos anéis pulmonares AO VIVO de "Light My fire", que é engraçadinha, mas herege por reinventar tal clássico do Doors. Em "Eurochild" os vocais de 3D, aka Robert Del Naja, estão mais marcantes e envolventes, em uma das músicas mais puramente psicodélicas e "trippy" do disco, na minha opinião. Carregada de emoções, mas sem o tom tão dramático e cadenciado de Tracey, a viagem de "Eurochild" não traz tanta segurança ao ouvinte como em "Protection", por exemplo.
Já "Heat Miser" é instrumental e agonizante. O solo de piano do início, rápido e agudo, dá a impressão de uma vinheta de seriado médico. Mas a agonia começa de fato com um som de respiração artificial, induzida por aparelhos. Logo em seguida o piano fica mais dramático e a agonia se intensifica sem ter fim ou alívio.
Cada faixa do disco merece atenção especial, porém, eu destacaria as duas interpretadas por Tracey Thorn, que tem um dos vocais mais peculiares e emocionantes dentre todos os vocais femininos brancos que eu já ouvi (e olha que vocais femininos são uma especialidade dessa que vos fala). Me lembro nitidamente da primeira vez que ouvi "Protection", na jukebox de um bar aqui de Curitiba. A voz da Tracey ecoando pelo bar, envolvendo o ambiente, deixando a atmosfera confortável e protegida, literalmente. Você sempre estará seguro explorando seu próprio território.
Todo o dia um disco/ Protection
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Download:
Massive Attack - Protection
Março... Esmagado entre compromissos e uma virose implacável. Escassez de postagens, desculpem.