Desde que o soul é soul, Booker T. Jones sempre esteve envolvido. De saxofonista da Stax Records em 1960 até a gravação do primeiro disco como músico profissional, o antológico Green Onions com o grupo The MGs (com Steve Cropper na guitarra), em 1962, o músico conseguiu formatar uma unicidade que permanece como sua característica mais de cinco décadas depois.
Agora, o antigo The MGs deu lugar aos engajados músicos do The Roots. E, por mais que a gênese da soul music permaneça intacta como uma relíquia imutável, o álbum The Road From Memphis contém mais novidades do que você imagina. Produzido por ?uestLove e Beck, o disco trafega pelas raízes do som clássico da Stax, como percebe-se já na primeira faixa, “Walking Papers”.
Interessante também são as releituras de canções que beberam direto da fonte das origens soul, como “Crazy” (Gnarls Barkley) e “Everything Is Everything” (Lauryn Hill). Se na primeira o refrão emblemático de Cee Lo Green acaba ofuscado pelo solo no órgão de Booker T., a segunda canção recebeu uma roupagem mais grooveada, com inconfundíveis pitadas funkeiras.
Talvez a incrível dinâmica existente entre Cropper na guitarra e Booker T. tenha se perdido com o tempo. Mas o guitarrista Kirk Douglas consegue contornar essa lacuna investindo nos riffs funkeiros em uma base mais rítmica que solista, o que garante o contínuo gingado para faixas como “The Hive” e até mesmo a melódica “Rent Party”.
Quando a voz dá o ar da graça, entram participações marcantes, como a da cantora Sharon Jones em “Representing Memphis”. Essa faixa, inclusive, conta com uma palhinha (inesperada) de Matt Berninger, vocalista da banda de rock indie The National. O dueto é pontuado pelos curtos solos de Booker T., que sabe poupar muito bem o instrumento para fazer valer a inspiração blueseira. Yim Yames, do My Morning Jacket, também contribui com sua voz acentuada em “Progress”.
Após uma linda balada introdutória com a dinâmica afinada entre os compassos da bateria de ?uestLove, os órgãos de Booker T. e o baixo de Owen Biddle, “The Bronx” cria uma ambientação suave para o vocal contido e perturbador de Lou Reed, o eterno poeta urbano.
Impecável como poucos discos, The Road From Memphis exala primor tanto pelos arranjos como pelas pontuações perfeccionistas dos instrumentos. E, reformulando a primeira frase: onde tem soul bom, tem Booker T. Jones.
Fonte: Na mira do Groove
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Download: Booker T. Jones - The Road From Memphis
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