sábado, 8 de setembro de 2012

Radiohead - Kid A [2000]


Na leva dos discos experimentais, segue uma verdadeira pérola, um achado em meio ao pessimismo de Thom Yorke, líder do Radiohead, ao lançar na época um trabalho completamente avesso ao que o Radiohead vinha apresentando, com o passar dos anos estes traços de experimentalismo se incorporaram de vez na veia criativa da banda, dando outro significado ao que eles fazem. Como sempre digo, Radiohead não faz música.

"Kid A" foi produzido em meio as confusões emocionais de Thom Yorke, um sujeito de alma deprimida, que é capaz de tirar daí, inspiração para tantos trabalhos magníficos da banda. Pois é, logo após o estupendo sucesso de "Ok Computer" ele entra em profundo desespero e decide "destruir" completamente aquele clima de glória conquistado anos antes. Um trabalho anticomercial e repleto de experimentações, totalmente complexo fariam do disco uma aposta incerta, isso aos olhos da banda. Um tapa na cara da indústria fonográfica, um suicídio comercial, um verdadeiro salto no abismo.

Crasso engano.

O disco logo foi alçado ao posto de um dos "melhores do ano", apontado como uma "revolução", uma nova forma de fazer música, uma outra visão de apresentar a arte. A crítica não entendeu, mas engoliu a seco a genialidade "antissocial" de Yorke, e milhões e milhões de disco vendidos depois, "Kid A" foi ganhando espaço nas listas dos melhores do ano, da década, de sempre. Se Thom Yorke achava que com um trabalho despretensioso e anticomercial poderia sumir, errou feio. Que ele continue "errando" para a alegria dos amantes da boa música.

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How To Disappear Completely 

Aquele ali
Aquele não sou eu
Eu vou
Onde bem entender
Atravesso paredes
Desço o rio Liffey
Eu não estou aqui
Isso não está acontecendo
Eu não estou aqui
Eu não estou aqui

Num momento
Eu partirei
O momento já passou
Sim, já foi
E eu não estou aqui
Isso não está acontecendo
Eu não estou aqui
Eu não estou aqui

Luzes estroboscópicas e auto-falantes estourados
Fogos de artifício e furacões
Eu não estou aqui
Isso não está acontecendo
Eu não estou aqui
Eu não estou aqui

YM
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Download: Radiohead - Kid A
                 Radiohead - Kid A - OP2

Massive Attack - 100th Window [2003]


Um hiato de 5 anos separam o último disco da banda, "Mezzanine", do mais novo trabalho até então. "100th Window" é o quarto trabalho de estúdio do grupo britânico e marca a fase pós-Mushroom, um dos co-fundadores do Massive Attack, que abandona a banda  após divergências musicais. Outro ponto importante na fase de produção do disco é o afastamento de Daddy G que por pouco não deixa a banda, com isso, o novo disco se tornou quase que um projeto pessoal de Del Naja, que, engajado nas causas sociais (atitude comum a muitos artistas da época, visto que os eventos de 11 de Setembro ainda eram latentes na sociedade) transformou quase que totalmente a sonoridade original da banda. 

Antes de tudo, "100th Window" é um projeto experimental, onde o Massive Attack se dispõe a quebrar certos moldes, rompendo fronteiras e jogando  mais com elementos musicais até então nunca utilizados, são outros arranjos, outras parcerias que contribuem para mais um trabalho diversificado, marca registrada da banda.  O disco é tomado por uma atmosfera mais densa, obscura, com canções melódicas compassadas por letras com teor crítico e reflexivo maior que nos discos anteriores, e isso sem perder a capacidade  harmoniosa e confortável de nos transportar para um clima de profundo bem-estar, coisa que só o Massive Attack pode proporcionar. 

Composto por parcerias do nível de Sinèad O' Connor, Damon Albarn e o tradicionalíssimo Horace Andy, Del Naja parte para uma fase comum aos grupos na época, ultrapassando não só o milênio, como também as fronteiras musicais, experimentando novos horizontes e pondo a prova mais uma vez a capacidade do Massive Attack em inovar, após 11 anos da estreia da banda, em 1992.

Se reparar bem, "100th Window" apenas segue o ciclo comum dos trabalhos do Massive Attack, que ao longo dos anos, disco a disco, não sentou sobre os louros e repetiu fórmulas, nada é semelhante ao outro, somente a base eletrônica é permanete. "Blue Lines" é o suprasumo da explosão do Trip-Hop, agregando todos os elementos incorporados para a fundação do estilo; "Protection" é literalmente uma viagem as raízes do Dub, em um clima surreal, não assimilado por qualquer um; "Mezzanine" é a dosagem perfeita do obscuro e o harmônico, digo com toda a certeza, que este trouxe uma boa base para a composição de "100th Window", mais um seguimento nesta que é uma das bandas mais criativas que existe.

YM

Butterfly Caught


A Prayer For England



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Download: 100th Windows

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Marvin Gaye - What's Going On [1971]

"Que diabos está acontecendo?" Esta foi a indagação que Marvin Gaye fez a si mesmo quando pensou em construir um disco que o faria encontrar a si mesmo musicalmente. "Que merda é essa?" Foram as palavras do Todo Poderoso da Motown, Berry Gordy Jr. ao se deparar com Gaye, em sua sala, resenhando sobre o que viria ser para muitos, o maior disco soul de todos os tempos. Pobre Berry, mal imaginava que ali estava sendo cunhado um verdadeiro hino que envolve tudo o que você (sim, você mesmo) se perguntou um dia. 

Eram tempos difíceis para Marvin Gaye, que ainda se recuperava da morte de Tammi Terrell, sua companheira de longa data. Ele estava destruído, deprimido, já não pisava nos palcos à dois anos e já planejava encerrar a carreira. Ironicamente, às vezes na vida de um homem, algumas coisas acabam por inspirar a ir cada vez mais adiante, fertilizando a vontade de estar vivo. Embora a inspiração de Gaye tenha vindo de dramas pessoais, a temática do álbum é universal, caberia como trilha sonora da vida de qualquer ser humano que ainda acredita em um mundo melhor.

Não é difícil, mesmo 41 anos depois de seu lançamento, nos apoiarmos na mensagens de paz e esperanças que este disco traz. Um disco muito especial para mim.

"What's Going On" por Marvin Gaye: “Percebi que eu devia deixar minhas fantasias em segundo plano se quisesse escrever canções que tocassem as almas das pessoas. Queria que elas tivessem uma visão do que estava acontecendo com o mundo”.

YM
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Download: Marvin Gaye - Whats Going On

Tom Waits - Rain Dogs [1985]


"Pessoas que vivem na rua. Você sabe, como depois da chuva você vê todos esses cães que parecem perdidos, andando por aí. A chuva remove todo o odor, toda orientação deles. Então, todas as pessoas no álbum estão entrelaçadas por alguma maneira física de compartilhar essa dor e desconforto." Tom Waits.

Não há nem muito o que falar, Tom Waits no auge da sua genialidade com um disco que pode significar EXATAMENTE o que o nome/capa diz: Um cão vadio no meio da chuva. São aproximadamente 50 minutos de puro barulho, um barulho surreal, letras extremamente controversas e tipicamente, indecifráveis.

O que é Tom Wait? Deus, quem sabe...

Discorda? Ouça este disco e ateste.

YM
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Download: Rain Dogs
                 Rain Dogs OP 2
                 Rain Dogs OP 3

Booker T. Jones - The Road From Memphis [2011]


Desde que o soul é soul, Booker T. Jones sempre esteve envolvido. De saxofonista da Stax Records em 1960 até a gravação do primeiro disco como músico profissional, o antológico Green Onions com o grupo The MGs (com Steve Cropper na guitarra), em 1962, o músico conseguiu formatar uma unicidade que permanece como sua característica mais de cinco décadas depois.

Agora, o antigo The MGs deu lugar aos engajados músicos do The Roots. E, por mais que a gênese da soul music permaneça intacta como uma relíquia imutável, o álbum The Road From Memphis contém mais novidades do que você imagina. Produzido por ?uestLove e Beck, o disco trafega pelas raízes do som clássico da Stax, como percebe-se já na primeira faixa, “Walking Papers”.

Interessante também são as releituras de canções que beberam direto da fonte das origens soul, como “Crazy” (Gnarls Barkley) e “Everything Is Everything” (Lauryn Hill). Se na primeira o refrão emblemático de Cee Lo Green acaba ofuscado pelo solo no órgão de Booker T., a segunda canção recebeu uma roupagem mais grooveada, com inconfundíveis pitadas funkeiras.

Talvez a incrível dinâmica existente entre Cropper na guitarra e Booker T. tenha se perdido com o tempo. Mas o guitarrista Kirk Douglas consegue contornar essa lacuna investindo nos riffs funkeiros em uma base mais rítmica que solista, o que garante o contínuo gingado para faixas como “The Hive” e até mesmo a melódica “Rent Party”.

Quando a voz dá o ar da graça, entram participações marcantes, como a da cantora Sharon Jones em “Representing Memphis”. Essa faixa, inclusive, conta com uma palhinha (inesperada) de Matt Berninger, vocalista da banda de rock indie The National. O dueto é pontuado pelos curtos solos de Booker T., que sabe poupar muito bem o instrumento para fazer valer a inspiração blueseira. Yim Yames, do My Morning Jacket, também contribui com sua voz acentuada em “Progress”.

Após uma linda balada introdutória com a dinâmica afinada entre os compassos da bateria de ?uestLove, os órgãos de Booker T. e o baixo de Owen Biddle, “The Bronx” cria uma ambientação suave para o vocal contido e perturbador de Lou Reed, o eterno poeta urbano.

Impecável como poucos discos, The Road From Memphis exala primor tanto pelos arranjos como pelas pontuações perfeccionistas dos instrumentos. E, reformulando a primeira frase: onde tem soul bom, tem Booker T. Jones.

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                 Booker T. Jones - The Road From Memphis OP 2
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