sábado, 14 de janeiro de 2012

Asian Dub Foundation - Enemy Of The Enemy [2003]


Já falei do ADF como uma banda que tem uma proposta totalmente contrária aos de diversos grupos que se dizem agir sob motivação social ou política. Na verdade, esse discurso furado fica pra bandas direcionadas ao público infanto-juvenil que são facilmente ludibriadas pelas performances daqueles que consideram seus "ídolos". O ADF não faz protesto, eles são o protesto.

O Asian Dub Foundation transita em uma atmosfera completamente fiel a que vivemos, abordando assuntos polêmicos e por vezes ocultos, situações que todo cidadão está sujeito a passar. Discriminação, xenofobia e violência são exemplos frequentemente escrachados em suas letras que te convidam a refletir sobre a realidade seja na Inglaterra, na Índia ou mesmo aqui, no Brasil. Afinal, problema não tem nacionalidade, não é?

Pois bem, nem mesmo a música tem nacionalidade, pelo menos é o que a alquimia musical dos caras dão a impressão, a ousadia de misturar tantos rítmos e acabar em um trabalho milimetricamente perfeito não é pra qualquer um, "Enemy of the Enemy", de 2003 é um exemplo dessa mistureba que engloba melodias indianas, reggae, drum n' bass e rap, com letras que abordam desde os eventos de 11 de Setembro ao Massacre do Carandiru estas são provas dessa integração que a banda tem com esse tipo de assunto, rompendo fronteiras e escancarando a realidade, pra ver e ouvir.

O disco começa com a vibrante "Fortress Europe", hip-hop, eletrônica e como sempre, guitarras afiadas, a música fala sobre a globalização e os efeitos negativos em povos menos favorecidos. "Rise to the Challlenge" segue a vibe da anterior, batidas empolgantes e uma atmosfera que te convidam a sacudir a cabeça; "La Haine" foi composta em protesto a morte de um amigo por policiais - uma cruel vingança a base riffs nervosos e percussão hindu. 

A partir daí chegamos à melhor faixa do disco (ao meu ver), a indescritível "1000 Mirrors", interpretada por Sinead O' Connor. Maravilhosa canção que retrata a violência doméstica sofrida por uma mulher que, pelos maus tratos sofridos durante anos acaba assassinando o marido, foi julgada e condenada e após vários protestos realizados em solidariedade a pena foi reduzida. A letra dessa música foi inspirada nesse fato.

"19 Rebellions" é outro ponto marcante do disco, composta na época da rebelião que acabou por terminar em 111 presos executados - O Massacre do Carandiru. A música começa com um boletim de rádio relatando o ocorrido na época acompanhado por versos de Eddy Rock (Racionais MC's) perfeitamente ajustados com berimbau e no refrão, a voz do vocal gritando "I bom pra caralhiôô". HAHAHA Perfeito. 

"Blowback aborda um pouco sobre o 11 de Setembro, assim também como a agitada e envolvente "Enemy of the Enemy" que dá nome ao disco. Dá até uns arrepios ouvindo essa. Foda demais!

A poderosa "2 Face" fala sobre a deslealdade das pessoas, diferentemente de "Power to the Small Massive" que retrata as boas vibrações regados a rítmos indianos. O rítmo indiano também é latente em "Dhol Rinse" e "Basta", esta última com um forte teor anti-globalista, seguindo a trilha de "Rise to the Challenge". "Cyberabad" não é cantada, mas nem por isso menos vibrante quanto as outras, o dub com uma belíssima voz ao fundo te dá impressão de estar em uma viagem pelo Oriente. 

Ousadia, criatividade e muita atitude fazem deste trabalho um dos melhores de 2003 e um dos mais bem sucedidos de toda a carreira do grupo. "Enemy of the Enemy" é imprescindível pra quem quiser conhecer esses caras que fazem muito mais que só gritar palavras de ordem, eles exploram a diversidade musical e abordam assuntos polêmicos reforçando o maior caráter que a música pode assumir em uma sociedade, de integração e responsabilidade com as causas sociais, sem falsidade e oportunismo.

O clipe de "1000 Mirrors".

YM
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